Projeto, que vai levar água para 12 milhões de pessoas de quatro Estados do Nordeste, será discutido na quinta-feira (14), a partir das 19h, na TV Crea-PE, pelo YouTube
Depois de 14 anos do início das obras, a Transposição do Rio São Francisco está na reta final da construção. Com a conclusão da parte física, entra a fase de operacionalização. Questões como o valor da tarifa da água e a distribuição dela aos Estados contemplados no projeto precisam ser tratadas. Exatamente para iniciar esta discussão sobre um empreendimento tão grandioso que o Crea-PE realiza na quinta-feira (14) o debate com o tema: “A Transposição do São Francisco e a segurança hídrica da região”.
O evento, que acontece no formato virtual, é coordenado pelo Comitê Tecnológico Permanente (CTP) – eixo Um projeto para Pernambuco e o Brasil. O debate conta com a participação do engenheiro civil Tiago Portela, coordenador-geral de Obras e Fiscalização do Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF) do Ministério do Desenvolvimento Regional; do engenheiro civil Joaquim Gondim, superintendente da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA); e da engenheira civil Fernandha Batista, secretária de Infraestrutura e de Recursos Hídricos de Pernambuco, como palestrantes.
A mediação ficará por conta do engenheiro civil e coordenador do Eixo 3 “Um Projeto para Pernambuco e o Brasil” do CTP, João Recena. O projeto da Transposição tem dois eixos principais: o norte e o leste. Os dois estão com pelo menos 97% das obras concluídas, conforme informação de Tiago Portela. Segundo ele, algumas obras complementares estão sendo viabilizadas, desde os processos de abertura de licitação à contratação para execução da obra. “Mais de 95% do ramal do Agreste está pronto, com a conclusão total prevista para ocorrer até o final do ano”, garante Portela.
A transposição, um projeto idealizado desde o Império no Brasil, na época de Dom Pedro II, envolve números grandiosos. Ele prevê deslocar água do São Francisco e abastecer quatro Estados nordestinos: Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte, contemplando 390 municípios e beneficiando 12 milhões de pessoas. Para isso, estão sendo construídos quase 480 quilômetros de tubulação nos eixos norte e leste.
O superintendente da ANA acredita que, com a conclusão da transposição, Pernambuco poderá concorrer com outros Estados na captação de mais empreendimentos, beneficiando a economia pernambucana. Joaquim Gondim, um pernambucano que teve sua vida profissional construída no Ceará, destaca que Pernambuco terá chances de resolver as graves questões hídricas no Agreste e Sertão. “Fortaleza é uma cidade que não falta água nem no período de seca, porque o Ceará investiu numa mudança de perfil da gestão dos seus recursos hídricos”, afirma Gondim, apontando essa possibilidade para Pernambuco com a finalização da transposição.
A conclusão do projeto em Pernambuco gera expectativa e entusiasmo ao Governo do Estado. A secretária Fernandha Batista declara que a transposição é um dos grandes projetos que vai trazer a solução e a segurança hídrica não só para o Agreste pernambucano, mas também para grande parte do Sertão do Estado. “São mais de 50 municípios que são impactados com esse projeto e que vai garantir toda a melhoria de qualidade de vida”, contabiliza a secretária, parabenizando o Crea pela iniciativa do debate.
Para Adriano Lucena, presidente do Crea-PE, o debate destaca uma obra fundamental para Pernambuco e para a região. “Estamos tendo a oportunidade de ver o projeto ser concretizado e usufruir dessa água, que é um bem tão escasso na nossa região”, afirma Lucena. Ele ainda fala que a iniciativa de discutir temas tão importantes para o desenvolvimento da economia e para a sociedade destaca uma abordagem adotada pelo Crea em buscar, através da engenharia, agronomia e geociências, os direitos da população. Principalmente o direito à dignidade. “Uma obra dessas vai devolver a dignidade à população que hoje convive com essa insegurança hídrica gerada por longos períodos de seca”, argumenta o presidente do Crea.
João Recena explica que a discussão vai jogar luz sobre questões que são importantes na operacionalização da obra. Um dos pontos é o preço da água. Qual será o valor deste produto? Principalmente porque quanto mais distante da fonte, maior é o custo, já que haverá gastos mais elevados no deslocamento. Entre estes gastos, há o consumo de energia para viabilizar o transporte da água.
Números não oficiais dão conta de que só com a energia, a despesa anual gerada pela transposição, ficaria na casa dos R$ 400 milhões. Seria a principal despesa para compor o custo da tarifa de água. Quem pagaria esta conta da água? Esta é uma das questões que precisam ser esclarecidas para um planejamento tanto dos Estados quanto dos municípios beneficiados com esta água.
Outro ponto é a distribuição desta água. Quais critérios serão usados para o envio da água para Estados e municípios? Principalmente num cenário de escassez hídrica. Só para ter uma ideia, o projeto tem a capacidade de uma vazão de 126 metros cúbicos de água por segundo. Mas só está autorizado a liberar 27 metros cúbicos por segundo. A permissão para a vazão de 100% da capacidade só é possível se o Lago de Sobradinho (BA) estiver com o reservatório completamente cheio. “Quando isso vai acontecer, já que Sobradinho está enviando água para outros reservatórios para garantir a geração de energia no País?”, questiona o coordenador do CTP.
O debate quer buscar essas respostas e apontar alternativas para garantir uma segurança hídrica, levando uma água acessível para consumo humano, pequenos agricultores. O evento acontece a partir das 19h, com transmissão ao vivo pela TV Crea-PE, no YouTube. Os participantes podem, depois das apresentações, fazer perguntas, considerações e sugestões pelo chat do YouTube. Este é o terceiro debate coordenado pelo CTP, sendo os primeiros temas sobre o Arco Metropolitano e a Transnordestina.