Em comemoração ao Dia do Engenheiro, lembrado nesta quinta-feira (11), o engenheiro civil e professor da UPE e do IFPE Alexandre Duarte Gusmão, escreveu um artigo que promove uma reflexão sobre o futuro da Engenharia.
Confira!
Por uma Engenharia Sustentável
Alexandre Duarte Gusmão
Eng. civil – Professor da UPE e IFPE
No mês de dezembro é comemorado o dia do engenheiro. Nada mais atual que se fazer uma reflexão da engenharia de hoje, e mais que isso, da engenharia que se fará no futuro.
Adivinhar o futuro não é tarefa fácil nem para magos e místicos, muito menos para os engenheiros. Mas no ano passado, o Sinduscon/PE organizou um interessante debate sobre o futuro da engenharia, e em particular da construção civil. E traçou-se o que seria essa engenharia do futuro.
A proposta discutida se baseia no tradicional conceito de sustentabilidade, que considera três dimensões: ambiental, econômica e social. Na dimensão ambiental, a pujança econômica da construção civil tem provocado muitos impactos. O setor produtivo é o maior consumidor de recursos naturais e o maior gerador de resíduos. Um prédio convencional produz cerca de 150 quilos de resíduos por metro quadrado de área apenas na etapa de construção, sem contar com os resíduos de demolição e escavações de subsolos.
Na Região Metropolitana do Recife se estima que sejam produzidas cerca de quatro mil toneladas de resíduos de construção por dia, sendo que pelo menos a metade disso é descartada de modo clandestino pelos espaços urbanos, causando impactos ambientais e econômicos relevantes. É um custo inaceitável para a sociedade.
No cenário do futuro deverão ser usados novos materiais nas obras, especialmente a base de polímeros. Também devem ser introduzidos novos processos construtivos, com predomínio de elementos pré-fabricados, que não gerem resíduos e com baixo consumo energético. Tais sistemas deverão envolver basicamente a montagem das peças nos canteiros, com menor necessidade de mão de obra. As etapas de fabricação e montagem serão separadas. Por último, para se conseguir isso, será necessário um grande investimento técnico nas etapas de planejamento e projeto das obras, incluindo controle de qualidade de projetos e atendimento a sistemas de certificação. Os projetos deverão ser mais valorizados.
Na dimensão econômica, a construção civil é um dos setores mais importantes do Brasil, representando cerca de 6% do PIB nacional. Nos últimos dez anos, o setor tem apresentado um crescimento acima do nacional, e em Pernambuco esse crescimento foi ainda mais expressivo, devido aos grandes investimentos em obras de infraestrutura. No financiamento das obras de infraestrutura, a participação atual do investimento público é bem maior que a dos investimentos privados, ao contrário dos países mais desenvolvidos. Na Inglaterra, por exemplo, os investimentos privados chegam a 68% do total. Outro aspecto relevante é que o Brasil ainda forma poucos engenheiros para o tamanho da sua economia. Em todos os países que tiveram grande crescimento nas últimas décadas, havia algo em comum: um forte investimento em educação e, em particular, na formação de engenheiros e técnicos. A Coréia do Sul, por exemplo, forma quatro vezes mais engenheiros que o Brasil. A engenharia é a arte de agregar valor aos processos e produtos.
No cenário do futuro deve ocorrer um aumento dos investimentos privados em obras de infraestrutura, através de mecanismos como as concessões e parcerias público-privadas, com processos licitatórios que sejam transparentes e viáveis. O ciclo dos processos construtivos deverá ser mais curto. O capital humano será fundamental para o planejamento dos processos. Apenas o conhecimento técnico e científico não será suficiente para o engenheiro do futuro, que deverá desenvolver outras competências, em áreas como a gestão de pessoas, economia do conhecimento e inovação tecnológica. As universidades deverão estar atentas a esse novo perfil do engenheiro.
Na dimensão social, a construção civil é também um setor com grande importância, pois emprega muitas pessoas, e em particular a mão de obra menos qualificada. As obras de engenharia influenciam a qualidade de vidas pessoas e estão presentes no seu cotidiano, tais como habitações, transportes e saneamento.
No cenário do futuro, as obras de engenharia deverão ser planejadas e projetadas não apenas por engenheiros e arquitetos, mas por equipes multidisciplinares, que contemplem e respeitem a diversidade dos aspectos ambientais, sociais e culturais. A engenharia deve integrar e não segregar as pessoas.
Essa é, portanto, a engenharia sustentável que terá que ser construída por todos, para que as obras sirvam a todos. Nessa construção, não se pode esquecer o compromisso incondicional de todos os engenheiros e demais profissionais com o respeito às decisões colegiadas, à solidariedade e à ética. Não haverá espaço para os profissionais e empresas que não respeitem a boa engenharia.