A pedido do Diario, presidente do Crea/PE vistoriou os abrigos no Centro do Recife e concluiu que há riscos
Elemento arquitetônico de proteção ou perigo suspenso? Projetadas para servirem de abrigo contra o sol e a chuva, as marquises do Centro do Recife clamam por manutenção e apresentam risco de queda. Prédios antigos em mau estado de conservação suspendem cobertas igualmente danificadas. Apenas este ano, a Diretoria de Controle Urbano – orgão responsável pela vistoria das estruturas – interditou 36 marquises na área central. Três estavam em situação crítica e tiveram as redondezas isoladas. A pedido do Diario, o engenheiro civil e presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Pernambuco, José Mário Cavalcanti, inspecionou a situação dos abrigos. A conclusão do especialista é alarmante: “A falta de manutenção, presente em vários pontos, é sinônimo de risco”.
A construção de marquises marcou o cenário arquitetônico das grandes cidades brasileiras entre as décadas de 1930 e 1940. O Recife estava entre os centros que se modernizaram seguindo padrões europeus. “Notadamente na capital pernambucana, onde o sol e as chuvas são abundantes, esse tipo de proteção era muito importante, principalmente no centro comercial onde a circulação de pessoas é mais intensa”, explicou Cavalcanti.
Com o passar dos anos e a falta de cuidados, as marquises deixaram de ser vistas por muitos como abrigo e passaram a representar perigo. “Trabalho como ambulante embaixo de uma, mas estou sempre com medo. Nas épocas de chuva nem venho trabalhar, pois ela fica cheia de infiltrações”, contou Maria José Lima, 55 anos, que vende refrigerantes e água na Rua da Imperatriz, uma das vias comerciais mais movimentadas do Centro.
Segundo José Mário Cavalcanti, além da ausência de manutenção, a utilização das cobertas para escorar caixas de ar-condicionado, letreiros muito pesados e outros equipamentos prejudica a estrutura. “As cobertas acabam ficando sobrecarregadas. Isso precisa ser evitado porque elas servem de abrigo para o pedestre e um abrigo não pode ser sinônimo de perigo”, afirmou. De acordo com ele, uma marquise suporta apenas cerca de 50 quilos.
O engenheiro visitou as ruas da Matriz, Imperatriz, do Hospício, além das avenidas Manoel Borba e Conde da Boa Vista. Ele constatou que a situação é mais grave na Rua da Matriz, onde a ausência de cuidados é evidente. Fissuras no concreto, infiltrações, sobrecarga e estruturas enferrujadas foram observadas pelo especialista. As marquises da Rua Imperatriz, por outro lado, são as mais bem conservadas.
Proprietário é responsável
O trabalho de vistoria das marquises é função da prefeitura da cidade. Já a responsabilidade pela manutenção é dos proprietários dos imóveis. A gerente de fiscalização da Dircon, Irájacira Beltrão, informou que os donos que não obedecerem aos pedidos de interdição, revitalização ou demolição podem ser multados. A penalidade varia entre R$ 500 e R$ 5 mil. “Dependendo da gravidade do caso e da localização do imóvel, a multa ainda pode chegar a 10% do valor de venda do bem”.
O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas do Recife (CDL), Eduardo Catão, assegurou que os comerciantes do Centro sabem que são responsáveis pelos cuidados com as marquises. “É uma preocupação nossa, pois sabemos que a queda das cobertas podem causar acidentes sérios. A conservação do prédio como um todo, inclusive das marquises, é de responsabilidade do proprietário, do inquilino ou do condomínio, dependendo da forma de contrato”.
De acordo com a prefeitura, houve uma redução na adesivação de marquises este ano. “Nos dois primeiros meses de 2012 foram 36. No mesmo período do ano passado, 50. Isso prova que o trabalho preventivo da prefeitura surtiu efeito”, destacou. A fiscalização do órgão municipal se concentrou nas avenidas Nossa Senhora do Carmo, Dantas Barreto e Rua da Concórdia.
As vias foram priorizadas por fazerem parte do percurso do Galo da Madrugada. “As vistorias nessas áreas foram realizadas até a véspera do desfile para coibir a possibilidade de ocupação indevida das marquises”, esclareceu Irájacira. Segundo ela, o trabalho de fiscalização continuam após o carnaval. “Esse tipo de inspeção faz parte do nosso calendário de tarefas. As vistorias são feitas diariamente”, completou.
Fonte: Matéria produzida pela jornalista Anamaria Nascimento, publicada no Caderno de Vida Urbana, na edição de sábado (03.03), no Diario de Pernambuco.