Brasília, 3 de março de 2010 – Nas décadas de 20 e 30, o casamento era o principal motivo de realização pessoal para a maioria das mulheres.A troca do tradicional curso de magistério tinha que contar com incentivo dos pais ou de algum professor, considerados modernos para época.
Foi assim com Maria Luiza Fontes, a primeira engenheira mecânica e eletricista do Brasil. Aos 86 anos, ela se orgulha da profissão. “Eu sempre quis ser independente e achei que eu conseguiria com a Engenharia, apesar de ter ficado apreensiva pelo fato de saber que eu seria a única mulher na turma. Mas o meu pai me incentivou muito. Alguns anos depois de formada, fui convidada para trabalhar fora do país, mas a maternidade me impediu. Não fiquei triste com isso, apenas pensei nas minhas filhas naquele momento”, se recorda.
As histórias das mulheres na área tecnológica são recheadas de curiosidades, emoções e desafios. Elas tiveram que correr atrás do conhecimento numa área com alto nível de exigência e não deixaram de ser o centro da família com responsabilidades de cuidar da casa e dos filhos. Obstáculos que elas superaram, afinal organização e capacidade de realizar mais de uma tarefa são algumas características das mulheres, hoje reconhecidas, inclusive, no mercado de trabalho.
Aos pouquinhos as mulheres foram colecionando conquistas e passando por cima do preconceito. Entre 1900 até 1920, nenhuma mulher passou pelas carreiras tecnológicas. Em 1930, eram 660 engenheiros civis e apenas uma mulher. Até a formação do Conselho da 5ª Região, em dezembro de 1933, somente 14 mulheres eram formadas em Engenharia, Arquitetura e Agronomia, enquanto que os homens somavam, no mesmo período, 2.023 – dados referentes aos profissionais com registro. É o que mostra uma pesquisa feita pela geógrafa, Sheila Gutierrez.
No passado os valores eram outros e as mulheres não eram estimuladas a cursar uma universidade, principalmente de alguma área tecnológica. Mas e agora? O que falta para que mais mulheres façam a opção pela engenharia civil ou de produção, ou mesmo pela geologia? Um levantamento apresentado no Fórum da Mulher 2009, durante a Semana Oficial da Engenharia, da Arquitetura e da Agronomia (Soeaa), mostrou que no universo de 735.098 profissionais, no Brasil, apenas 118.907 são mulheres.
“Temos que atuar para aproximar o Sistema das jovens e, acredito, o Crea Junior pode ser um ótimo instrumento para fazer esse trabalho de base. Precisamos lutar pela inserção e valorização da mulher no mercado de trabalho. Cada Crea, individualmente, pode contribuir muito. Só dessa forma poderemos mudar essas estatísticas”, ressaltou a técnica industrial Iracy Silvano.
Ainda segundo a pesquisa da geógrafa Sheila Gutierrez, as mulheres avançam em quase todas as áreas, mas nas ciências a participação delas não cresceu. A classificação conferida pela bolsa de produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) aponta que, nos estágios iniciais da carreira acadêmica, as mulheres representavam, em 2008, pouco mais de um terço dos pesquisadores em todas as áreas. Nas ciências exatas, a diferença é ainda maior. Em 2005, as mulheres que estavam no topo respondiam por apenas 3% das bolsas.
Para aumentar o ingresso das estudantes em algum curso tecnológico e incentivar a participação das profissionais no Sistema, o Confea tem unido esforços aos Creas no debate sobre assunto por meio dos Grupos de Trabalho Mulher (GTs). Desde a criação do Conselho Federal, por exemplo, em 1933, nenhuma mulher foi eleita presidente. Em 2010, serão apenas duas conselheiras federais (titulares) num universo de 21 cadeiras no plenário do Confea. Dos 27 Creas há apenas uma mulher como presidente: em Tocantins.
Da Assessoria de Comunicação do Confea