Crea-PE lança programa para estimular o empoderamento feminino e igualdade de gêneros dentro do Conselho e da sociedade
Empoderamento foi a palavra e o conceito que marcaram o lançamento do Programa Mulher Pernambuco. A implantação desta iniciativa do Crea-PE quer justamente ampliar o protagonismo feminino nas engenharias, agronomia e geociências. A cerimônia foi marcada por histórias inspiradoras, momentos de emoção e, principalmente, pertencimento a um lugar de destaque nos ambientes tidos como masculinos.
Na cerimônia, mulheres que desbravaram lugares nunca antes ocupados pela presença feminina, a exemplo da primeira vice-governadora de Pernambuco Luciana Santos (PC do B), a primeira vice-prefeita do Recife Isabella de Roldão (PDT) e a única deputada federal de Pernambuco Marília Arraes (PT). Assim como nas engenharias, a política também é um ambiente inóspito para mulheres.
Presidindo a mesa, Adriano Lucena, presidente do Crea-PE, mostrou que é um homem que coloca em prática a máxima de que lugar de mulher é onde ela quiser. Ele destacou que não há conquista sem luta. E esta luta da igualdade de gênero é a do Crea-PE, afirmou Lucena para uma plateia majoritariamente feminina. Uma realidade bem diferente entre os profissionais registrados no Conselho, onde o índice de mulheres é de 20% do total dos cerca de 66 mil profissionais.
“Nós somos terra de bravos guerreiros e de guerreiras”, destacou Adriano ao mencionar as mulheres de Tejucupapo, reconhecidas como heroínas em 1646 por derrotarem os soldados holandeses. Continuou declarando: “Mulheres, o seu lugar é na engenharia, mulheres, o seu lugar é onde vocês quiserem. Não há essa diferença de homens e mulheres. Somos todos iguais e essa igualdade nós só vamos tê-la, de forma efetiva, se vocês acreditarem e buscarem esse espaço. No Crea eu digo que nós não temos portas. Recebemos todos para construirmos o espaço que a gente vive”.
PARCERIA
De forma virtual, a vice-governadora mostrou-se entusiasmada com a iniciativa do Crea. “Momentos como esse a gente precisa valorizar o papel da engenharia, que a engenharia tem um impacto no crescimento, no fortalecimento no projeto de desenvolvimento do País”, enfatizou, citando a importância de Enedina Alves Marques, a primeira mulher formada em engenharia civil, em 1945 pela Universidade Federal do Paraná. Luciana colocou o Governo do Estado à disposição para parcerias para viabilizar o projeto. Até porque, favorecer a ascensão da mulher é viabilizar o crescimento de Pernambuco, já que 44% da população economicamente ativa são de mulheres.
“O espaço para as mulheres ainda é desafiador. Por essa quebra de paradigmas e esse desbravar que eu hoje louvo vocês, mulheres engenheiras, pela coragem e pela audácia de ocupar um espaço que até então era restrito ao universo masculino”, pontuou Isabella de Roldão, presente no auditório do Crea. A vice-prefeita contou: “amigas engenheiras me relatam que a maior dificuldade para elas era imaginar estar em obra, porque é você tem que lidar com muito homem. Como você se posiciona com autoridade você sendo enxergada como uma mulher, aquela mulher do sexo frágil? E aí você começa a pensar nos pontos mais específicos. Como é o banheiro de obra para a mulher engenheira?”. Ela reconhece a importância do programa que vai ter este olhar para questões como estas, além de incentivar as meninas a seguirem carreira na área.
CONVITE
Também de forma virtual, Marília Arraes iniciou sua fala agradecendo o convite e afirmando que não poderia deixar de participar de um evento destes. “É muito importante que a gente tenha políticas em todas as esferas e todos os órgãos que estimulem a participação de mulheres, que incentive, que garanta a participação de mulheres. Atuo num ambiente majoritariamente masculino, a política. Sou a única deputada federal mulher da bancada pernambucana. Em Brasília, somos somente 15% da Câmara Federal. Parabenizo ao Crea. Sei o quanto é importante inserir cada vez mais mulheres em todas as áreas”, reconheceu.
Roberto Freire, que compôs a mesa enquanto presidente da Fisenge (Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros), lembrou a dificuldade das mulheres em avançar e conquistar seu espaço na engenharia. Ele mesmo foi estudar a história da mulher na engenharia e foi um dos que se posicionou para criação de espaços que as valorizem na profissão. “Lembro que tinha o exemplo do machismo dentro de casa, quando o pai proibiu a mãe de trabalhar fora. Não a deixava trabalhar. É uma coisa muito triste para mim. Ela tinha condições, ela tinha formação, mas não podia porque papai não permitia”, contou Roberto, destacando que o programa de mulher foi uma pauta implantada no sistema por Joel Krüger, presidente do Confea.
COMITÊ
A informação de Roberto foi reforçada por Michele Costa Ramos, conselheira nacional do Confea e integrante do Comitê Nacional do Programa Mulher. Ela, que é engenheira mecânica, participou do lançamento representando Joel Krüger. Na sua fala, ela agradeceu a oportunidade de representar o presidente do Confea e disse sentir-se honrada em representar as mulheres na diretoria institucional do sistema. “São duas mulheres no conselho federal e é gratificante fazer parte disto, mesmo sendo minoria, mas hoje elas podem representar as mulheres no conselho. O Programa Mulher é um programa que veio para ficar. Não é algo passageiro. Mostramos às meninas que elas podem chegar onde elas querem”, ressaltou.
Na sequência, Fabyola Resende, engenheira eletricista e segurança do trabalho e secretária executiva do Programa Mulher Nacional, apresentou os números do programa, explicando que a ideia surgiu em 2018, mas foi implantada efetivamente em 2019. Segundo ela, o projeto tem diretrizes que balizam os programas dos Creas regionais, mas cada um atende as peculiaridades das suas regiões, de suas realidades.
PAUTAS NACIONAIS
Fabyola destacou que o presidente Adriano Lucena tem sido muito parceiro da gestão nacional, acompanhando o Confea em várias pautas nacionais, sendo o Programa Mulher uma delas. “Quando propuseram a criação do programa, em 2018, traçaram uma meta bastante tímida que era aumentar o percentual de mulheres em 10% e agora, na última atualização de dados do nosso sistema, a gente percebeu que esses 10% foram superados, aliás dobrados e hoje tem 20% da participação feminina entre os profissionais registrados. Esse número reverberou, porque hoje temos mais mulheres nas diretorias, no conselho, na diretoria da Mútua, em várias instâncias”, contabilizou.
A fala de Nancy Walter, engenheira ambiental, que preside o comitê nacional e é a primeira mulher na presidência do Crea-RS, começou com uma proposição aos homens presentes no evento. Numa plateia majoritariamente feminina, ela pediu aos homens que olhassem para trás para terem a mesma sensação que as mulheres têm no universo da engenharia, onde são rodeadas por homens. “Me perguntam como é a minha rotina à frente, pela primeira vez da presidência do Crea no Rio Grande do Sul, se eu enfrento algum problema de machismo. Se a gente se preocupasse com isso, já sairia correndo logo no primeiro dia. A gente vira a página e segue o baile. Eu quero sempre trazer uma fala de encorajamento”, atestou.
Giucélia Figueiredo, engenheira agrônoma, que representou a Mútua Nacional e também faz parte do comitê nacional, iniciou sua fala citando Guimarães Rosa, que disse: “O que a vida quer da gente é coragem”. Ela afirmou que o Programa Mulher traz consigo todo um acúmulo dos debates, do protagonismo, da resistência da mulher engenheira. “Ele rompe com a bolha da corporação. Linca a questão da mulher engenheira com a luta de todas as mulheres, seja a engenheira, a trabalhadora rural, professora, pesquisadora. A luta por uma sociedade justa e igualitária. Esse é o nosso grande foco”, afirmou, destacando que é preciso ampliar esse diálogo e pautar assuntos relacionados com o cotidiano e mundo real das mulheres, como a violência contra a mulher, uma grande chaga da nossa sociedade. “A questão do feminicídio é real”, pontuou.
HOMENAGEM
O lançamento também foi palco para homenagear mulheres que se destacaram na área acadêmica e empresarial: Maria de Lourdes Alcoforado, engenheira eletricista; Suzana Gico, engenheira civil; Maria do Carmo Sobral, engenheira civil; Marta Lúcia Rolim, engenheira civil; Maria da Conceição Cabral, engenheira civil; e Regina Gaudêncio, engenheira civil, que roubou a cena na recepção do certificado com a presença da neta de 8 anos, Maria Regina, uma entusiasta da trajetória da avó.
O programa será conduzido por um comitê que vai buscar caminhos para estimular a participação feminina como autoras principais dentro do sistema. O comitê também desenvolverá políticas e programas atrativos e que deem destaque às mulheres. A equipe será presidida por Adriano Lucena e formada por Eloisa Moraes, engenheira civil; Giani Camara, engenheira de segurança do trabalho; Jaciara Marques, engenheira de segurança do trabalho; Cláudia Alcoforado, engenheira civil; Roberta Meneses, engenheira civil; e Pompéia Lins, engenheira eletricista.
VISIBILIDADE
Eloísa Moares explicou que esse programa é muito importante para dar visibilidade aos casos de sucesso da mulher na área de engenharia. “Muita gente acha muito masculina, mas que temos cerca de 20% sendo mulheres. A gente precisa trazer essas moças, essas mulheres para dentro do sistema para que elas exerçam a sua profissão. Porque muitas delas se formam e não possuem o registro e nem trabalham na área. Objetivo principal é a divulgação do protagonismo e incentivar que cada vez mais elas procurem os postos de trabalho que não são exclusivamente masculinos, pelo contrário”, esclareceu.
O programa também está comprometido com o objetivo de desenvolvimento sustentável número 5 da agenda 2030 da ONU. Isso porque busca estimular o protagonismo das mulheres na construção de uma sociedade e de um Sistema Confea/Crea cada vez mais justo, igualitário e democrático.
A cobertura completa da cerimônia pode ser vista clicando aqui.