Depois de acompanhar pela manhã palestras magnas sobre bioenergia e competitividade sustentável, o público da Conferência Internacional Água e Energia se dividiu na tarde desta quinta-feira (28) para debater com especialistas temas técnicos como o reuso sustentável de água, os impactos climáticos em água e energia e a utilização de recursos hídricos na China.
AUDITÓRIO ENERGIA
Menos impactos e mais ciência da sustentabilidade
No auditório Energia, o presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Pernambuco (Crea-PE), Evandro Alencar, comandou mesa de debates. No início da tarde, o PhD em Meteorologia Augusto José Pereira Filho conversou com o público sobre mudanças climáticas destacando as possíveis causas dessas alterações. Entre elas, redução da vegetação, crescimento urbano e poluição do ar. O especialista chamou atenção dos profissionais da área tecnológica para a interconexão global das variações climáticas. Exemplificou dizendo que atualmente a região da Antártida está mais fria, por isso ela acaba gerando menos água, o que faz com o que o restante do mundo fique mais seco, com menos umidade. “Todo esse sistema é muito complexo e impacta muito”, afirmou.
O PhD citou ainda o exemplo da Região Metropolitana de São Paulo, onde a média da temperatura subiu 2° C entre os anos de 1936 e 2005, a umidade relativa caiu e a incidência de luz solar aumentou. “Como resultado, houve crescimento do consumo de água por parte da população. E o resultado foi um problema”, pontuou o especialista ao mencionar a crise hídrica da região.
A solução, segundo o meteorologista, é investir no monitoramento de variações climáticas, fazer uso apropriado do solo e da água, controlar a poluição e revisar a legislação do setor. Assim, é possível gerar menos riscos e mais benefícios ao bem-estar da população, além de proporcionar mais proteção ao meio ambiente. De acordo com Augusto Filho, essas ações compõem a ciência da sustentabilidade que abrange economia, sociedade, ciências naturais, conhecimento e atividade humana. “E a meteorologia tem muito a oferecer nesse sentido, inclusive para alertar e prevenir a população de desastres naturais”, finalizou.
A resposta está no Nordeste
“O Nordeste brasileiro é o Oriente Médio das energias renováveis”, brincou o palestrante José Carlos de Farias, referindo-se à grande quantidade de petróleo na região. Farias é o diretor presidente da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) e ministrou palestra sobre energias renováveis . Segundo ele, o semiárido nordestino é a região com maior potencial de energias eólica e solar do Brasil. “No Nordeste, os ventos têm direção constante e velocidade elevada sem chegar a ter rajadas, como no Sul. A região também não tem grandes calmarias que prejudiquem a produção de energia. Por essas características, o vento do Nordeste é um dos melhores do mundo”, disse, e complementou: “Além disso, nós temos um potencial de energia solar imenso. As taxas de irradiação solar mais baixas no Brasil ainda são maiores do que as melhores taxas da Alemanha”.
Farias – especialista em regulação de mercados energéticos e ex-diretor de estudos da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) – também abordou uma novidade na área: a energia oceânica, que pode ser aproveitada de três maneiras: pela maré, pelas ondas e pelas correntes marítimas. Ele explicou sobre a última: “São aerogeradores no fundo do mar que aproveitam as correntes para gerar energia”. E não surpreende onde está o maior potencial para essa categoria: “O Nordeste tem uma das melhores correntes marinhas do mundo, de alta velocidade”, disse, antes de brincar comparando a região com o Oriente Médio.
AUDITÓRIO ÁGUA
Graduado pela Universidade de Hohai e PhD em Recursos Hidrológicos e Água, Zhang Xingnan palestrou sobre “Desenvolvimento e utilização de recursos hídricos na China”. Em sua apresentação, ele apresentou o mapa hidrográfico da China e sua posição em âmbito mundial, que representa 6% dos recursos hídricos globais, ficando atrás do Brasil, Rússia, Estados Unidos e Canadá. A China é considerada o 104º país em disponibilidade hídrica.
Sobre problemas de escassez de recursos hídricos, Xingnan apresentou dados que mostram que a China é um dos três países com déficit de 40 milhões de metros cúbicos para atender suas necessidades. O consumo anual da China é de 609 bilhões por metro cúbico. “A agricultura, a indústria e o consumo urbano são os três principais consumidores de água doce e sua utilização eficiente é baixa, se comparada a outros países. Para produzir uma tonelada de alimentos é preciso 972 m³, em Israel se gasta 260 m³”, exemplificou.
Antes de encerrar sua palestra, o palestrante enfatizou que o uso ecológico e ambiental da água está sendo levado a sério da China. Até por isso adotaram “Estatuto dos Recursos Hídricos”. Confira a palestra de Zhang Xingman.
Reuso Sustentável
Na palestra sobre “Reuso Sustentável de Água e Reciclagem – Aplicação, Desafios e Avanços Tecnológicos”, Aridai Herrera alertou sobre os problemas que a humanidade enfrentará nos próximos 50 anos, o que inclui a escassez de água e energia.
Sobre a reutilização da água, Herrera explicou que em uma perspectiva global, o líder da utilização em reuso é Israel com 70% de reutilização de suas águas para agricultura, a Espanha com 12%. “A mudança na postura em relação ao reuso se deve às dificuldades em obter água. Sendo assim, a questão da reutilização da água não é só uma solução, mas é uma fonte de recursos renováveis”, esclareceu o palestrante.
Aridai ainda explicou que nos Estados Unidos, as novas plantas de tratamento passam por novas nomenclaturas em um centro onde se podem extrair novos recursos. “Estações de tratamento de águas residuais são cada vez mais vistas como um lugar onde os recursos podem ser recuperados a partir da água utilizada, instalações de recuperação de recursos, portanto, a recuperação de nutrientes tornou-se valor agregado, dada a preocupação global com a reserva de fosfato”, disse.
Sobre os desafios do reúso, o palestrante acredita que a aceitação pública ainda é uma das maiores barreiras. Outra preocupação é a capacitação de profissionais capazes de identificar os produtos químicos lançados nas águas. Antes de terminar, lançou um desafio: “Nós, engenheiros, temos de criar novos mecanismos e plantas que possam tratar todos os poluentes emergentes”, finalizou.
Do Confea