Debate se propôs a buscar alternativas para o déficit habitacional da cidade, com a possibilidade de ocupação de prédios ociosos
O Crea-PE foi convidado a participar da audiência pública da Frente Parlamentar pelo Centro do Recife da Câmara dos Vereadores. Na pauta, a habitação nos centros da cidade. A frente, criada em agosto passado, tem como objetivo tratar a questão da habitação, mais precisamente a falta dela. O trabalho é para mudar uma realidade onde tem tanta gente sem casa e tanta casa sem gente. Isso porque, o déficit habitacional no Brasil é quase equivalente ao número de imóveis ociosos.
Flávio Domingues, gerente de Relacionamento Institucional do Crea-PE, participou da audiência, que aconteceu dia 27 de setembro, representando o presidente Adriano Lucena. Domingues confirmou aos participantes da disponibilidade do Conselho em participar ativa e constantemente do debate.
A ideia da frente é ouvir, discutir, propor e encaminhar alternativas que possam mudar essa realidade da falta de moradia ainda mais agravada pela pandemia. Até porque, as soluções e modelos adotados nos anos 1980 e 1990 de conjuntos habitacionais nas periferias e construção de habitações de interesse social não passavam pelos imóveis já existentes e abandonados no Centro da cidade.
O Centro da cidade sempre esteve entre os locais de desejo de moradia da classe média, que quer ficar mais próximo do trabalho, próximo de locais com uma infraestrutura consolidada. Tais solicitações são atendidas com construções de prédios para atender esta demanda, principalmente nos bairros da Boa Vista, Santo Amaro ou no Bairro do Recife. Mas a questão dos prédios ociosos não era contemplada por estas soluções.
Flávio Domingues pontuou que a nova gestão do Crea quer ajudar a transformar essa área central do Recife. “O Crea hoje vê como prioridade para a engenharia a recuperação do Centro do Recife e a assistência técnica para a habitação de interesse social, uma ferramenta para a melhoria para a qualidade de moradia e da vida do cidadão. O Crea está à disposição para participar de forma ativa nesse debate, de forma contínua”, destacou Domingues.
Ele informou que o Conselho abraçou o projeto da criação do Memorial da Engenharia, um prédio onde funcionou a antiga Escola da Engenharia da UFPE, que fica na Rua do Hospício. “Os engenheiros têm a intenção de transformar o local num memorial, uma iniciativa que pode ajudar nesse processo de recuperação do Centro da cidade”, assegurou, destacando que tal memorial poderia estar num roteiro turístico.
“Um roteiro a pé que saísse do Mercado da Boa Vista, passando pelo Pátio de Santa Cruz, a Praça Maciel Pinheiro e a Casa de Clarice Lispector, a Matriz da Boa Vista, o Instituto Arqueológico, o Teatro do Parque, a própria Avenida Conde da Boa Vista, que sofreu intervenções para melhor a qualidade dos serviços que oferta. Logo depois vem o próprio memorial, a Faculdade de Direito, a Câmara dos Vereadores, o Parque 13 de Maio, a Assembleia Legislativa, chegando por fim à Rua da Aurora. O Crea está junto neste projeto. Está junto para ajudar a desenvolver a habitação de interesse social”, relatou o gerente de Relacionamento Institucional.
Flávio ainda assegurou que bairros como Recife Antigo, Santo Antônio, São José e a Boa vista são locais por onde caminha o desenvolvimento do Recife. “O Crea entende que tem que participar das ações que possam resgatar para moradia, para o comércio, para o negócio, essas regiões da cidade e para isso tem atuado firmemente em várias frentes e se coloca à disposição do Governo, das entidades para colaborar nos estudos, nos planos”, pontuou.
A audiência contou com a participação de entidades governamentais, movimentos sociais, além de vereadores que integram a Câmara do Recife. Num evento que durou pouco mais de três horas, contou com as apresentações dos temas: “Habitação no Centro do Recife: coexistência entre inovação imobiliária e patrimônio histórico”, por Iana Ludermir Bernardino, professora o Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFPE; “Da periferia ao Centro: de quem são os corpos excluídos da lógica da cidade”, por Vitória Genuíno, coordenadora do MST; “Moradia na área central do Recife – para quem?”, por Mariana Zerbone, professora do Departamento de História da UFRPE; e “Projeto Moinho Recife: renovação urbana e complexo multiuso”, por Bruno Ferraz, arquiteto e urbanista da B’Ferraz Arquitetura.