Projeto que leva engenharia pública para áreas carentes está sendo desenvolvido em parceria com a UPE
Puxadinho, gambiarra são termos que bem representam a falta da engenharia na vida da população carente. Por não conseguir pagar um profissional habilitado, moradores exercem seus “dons” de pedreiros, encanadores, eletricistas e mestre de obras para construírem suas moradias, colocando, muitas vezes, suas vidas em risco. Como garantir a segurança no projeto e execução de uma casa para o cidadão de baixa renda? Pensando nesse desafio, o Crea-PE criou o Crea na Comunidade, um projeto que leva engenharia pública para áreas carentes. A iniciativa foi viabilizada em parceria com a Universidade de Pernambuco (UPE), por meio do Projeto Habite Melhor.
Para apresentar o projeto e as parcerias que estão tirando o Crea na Comunidade do papel, o assunto será levado ao Crea Convida desta terça-feira (10). Com o tema “Crea na Comunidade: Por uma engenharia social”, o programa terá como palestrantes Stênio Cuentro, engenheiro civil e vice-presidente do Crea-PE; Rafaela Cavalcanti, arquiteta e urbanista, professora adjunta da UPE e coordenadora do Projeto Habite Melhor; e Pedro Falcão, biólogo e ex-reitor e professor adjunto da UPE. O Crea Convida também contará com a participação de Adriano Lucena, engenheiro civil e presidente do Crea-PE, como debatedor.
As ações do Crea na Comunidade estão inseridas no contexto da Assistência Técnica em Habitação de Interesse Social (Athis) pública e gratuita para famílias de baixa renda no Recife. O presidente do Crea-PE argumenta que no mundo jurídico tem a Defensoria Pública para atender à população carente. Na área da saúde existe o SUS (Sistema Único de Saúde) que exerce esse papel. “Na engenharia, a gente tem a Lei da Engenharia Pública, a 11.888, mas que não é colocada em prática. A gente está fazendo alguns acordos de cooperação técnica para viabilizar o Crea na Comunidade”, explica Lucena, adiantando que o Conselho também vem acionando a bancada política pernambucana para direcionar verbas para a execução do projeto.
A parceria para o Projeto Crea Comunidade já foi firmada também com as prefeituras do Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca, na Região Metropolitana do Recife. Já em outubro passado, o Crea e a Universidade de Pernambuco assinaram um termo de cooperação técnica para a promoção do projeto.
O Plano de Trabalho elaborado pela equipe técnica prevê ações nas comunidades do Alto José do Pinho, Campina do Barreto, Coqueiral, Vila Independência e do entorno da reitoria da UPE. O projeto é realizado em parceria com o projeto de extensão da universidade, o Habite Melhor. As localidades contarão com a execução de assistência técnica por estudantes extensionistas da UPE supervisionados por professores e profissionais indicados pelas duas instituições. Os responsáveis pela operacionalização do acordo são Rafaela Cavalcanti e Stênio Cuentro.
“Talvez seja o projeto mais importante que o Crea desenvolve atualmente. É um projeto que integra a universidade, o Crea e os futuros engenheiros que participam dele. É uma harmonia que se busca no sistema desde cedo mostrar ao futuro profissional a verdadeira engenharia social”, avalia Cuentro. O vice-presidente do Crea ainda complementa: “O valor do Crea na Comunidade é exatamente esse, quando o futuro engenheiro aprende e desenvolve suas habilidades técnicas, colocando a mão na massa. Ele projeta, fiscaliza e acompanha a execução da obra e estabelece uma ponte com as famílias de mais baixa renda.”
Rafaela Cavalcanti explica que o projeto Habite Melhor começou em agosto de 2021 e está sob o abrigo do Programa de Formação Acadêmica da UPE. “A primeira comunidade foi o Coqueiral, de uma parceria com o Instituto Solidare. A gente também já tinha uma parceria antes com o Cendhec (Centro Dom Helder de Estudos e Ação Social), ajudando na nossa atuação na Vila Independência, que é em Nova Descoberta”, conta a professora.
Na avaliação de Rafaela, como a gestão do Crea já tinha essa intenção de trabalhar nas comunidades com o Crea na Comunidade e como a Politécnica é uma escola de engenharia, “então tinha tudo a ver essa conexão do Crea e com o Habite Melhor”. Segundo a arquiteta e urbanista, o acordo possibilitou trabalhar de uma forma mais incisiva. “Porque antes o projeto tinha estudantes voluntários. Eram estudantes extensionistas que tinham a carga horária máxima semanal de oito horas. Com o acordo de cooperação técnica, a gente viu a possibilidade de ter estudantes dedicados, estagiários do Crea atuando no Crea na Comunidade, sob nossa supervisão, dentro do Habite Melhor”, pontua Rafaela Cavalcanti.
“Estamos atuando em Coqueiral, Vila Independência, Mangueira da Torre. Em Mangueira da Torre finalizamos uma ação do projeto, que foi a recuperação da praça da comunidade, na Avenida Beira Rio”, adianta a professora da UPE.
Para o ex-reitor da UPE, Pedro Falcão, cujo acordo de cooperação foi assinado na sua gestão, a iniciativa é de uma importância extrema para a universidade. “Até porque mudaram algumas normas nos cursos de graduação, onde 10% da carga horária devem ser realizadas em atividades de extensão”, adianta Falcão, explicando que as disciplinas precisam ser voltadas para algo que vá para as comunidades. “E isso se encaixou perfeitamente para a universidade e para os cursos de engenharia, onde os estudantes, dentro de uma disciplina, vão realizar atividades práticas voltadas para a comunidade. A universidade sai do seu campus e vai para a rua ajudar. É aí é que é a missão da universidade também”, testemunha o ex-reitor.
O Crea Convida é transmitido ao vivo pela TV Crea-PE, no YouTube, a partir das 19h. Após a apresentação dos convidados é aberto um espaço para interação com os participantes presentes na live, com perguntas sobre o tema.