Criado pela Associação de Mulheres Engenheiras do Reino Unido, o Dia Internacional das Mulheres na Engenharia é comemorado anualmente em 23 de junho. A data tem como objetivo fortalecer o espaço que as engenheiras vêm ganhando na profissão, antes majoritariamente ocupado por homens. A notoriedade dessa atuação se deve à luta pela igualdade de gêneros e à consolidação de reivindicações políticas, como uma maior participação feminina no mercado de trabalho.
É notório, no entanto, que, a depender da profissão escolhida, há mais dificuldades a serem superadas. De acordo com o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), dos mais de um milhão de engenheiros cadastrados em seus sistemas até o final de 2021, apenas cerca de 19% são mulheres. Para a engenheira Daniela Medeiros, os dados mostram que o ambiente da Engenharia ainda é um local onde a mulher precisa ter mais do que um discurso pronto.
“O discurso dos homens é imediatamente aceito. Com a mulher não acontece o mesmo. Além de discurso, precisamos reiterar quase que diariamente a nossa capacidade técnica, exercendo as nossas atividades com precisão e qualidade, nos posicionando de maneira firme e adquirindo o respeito dos colegas”, afirma a engenheira, que há 22 anos trabalha na mesma empresa, onde começou como estagiária do curso técnico e se manteve após a graduação no curso de Engenharia Civil.
A engenheira civil afirma que apesar de ainda haver a necessidade de conquistas, como a equiparação salarial, as diferenças no mercado de trabalho não a impediram de manter uma relação harmoniosa e respeitosa com colegas, que foram também grandes mestres da atividade que desenvolve como projetista de obras de infraestrutura, em especial, projetos rodoviários. “ É inegável que existem diferenças no nosso universo, mas, nem sempre, tratamos de diferenças prejudiciais. É importante atentarmos para o fato de que, nós, mulheres, na grande maioria das vezes, temos mais inteligência emocional e mais equilíbrio na tomada de decisões técnicas. Acho que não podemos perder a delicadeza, a essência feminina, que são características diferentes que nos fazem especiais”, ressalta Daniela Medeiros.
A mesma opinião, no que tange à capacidade de conquistar espaço e respeito, é compartilhada pela engenheira química Daniele Castro. “Sabemos que, com o passar dos tempos, cada vez menos acontecem episódios de preconceitos em função de atuarmos num mercado dominado por homens. Na minha profissão, me dediquei à pesquisa e, como coordenadora de cursos universitários, já contribui na formação de mais de 3,4 mil profissionais. Embora saiba que haja, nunca vivenciei uma experiência pessoal de preconceito nos meus ambientes de trabalho nem na graduação e nas especializações que cursei”, afirma a engenheira.
Para a engenheira ambiental Manuela Lima, apesar de não atuar na atividade de licenciamento ambiental em tempo integral, o preconceito com relação à mulher vem sendo desconstruído ao longo do tempo, principalmente pela capacidade que elas têm de se sobressaírem em qualquer das atividades que desempenhem.
A experiência da engenheira eletricista Socorro Santos ainda mostra sinais explícitos do preconceito vivenciado pela mulher na atividade. “Sou engenheira eletricista e tenho um irmão que é engenheiro civil e trabalha com projetos hidrossanitários, muitas vezes os clientes indagam se não é ele o engenheiro eletricista. Percebo, claramente, que há uma certa dificuldade dos clientes em aceitarem que é a mulher que executa os trabalhos elétricos”, conta.
Luana Karoline Lima é engenheira ambiental e confessa que o desafio da profissão teve início desde a escolha, principalmente, por achar que não tinha capacidade de cursar algumas disciplinas da graduação. No que se refere aos desafios enfrentados pelo fato de ser mulher, lembra que ao concluir um treinamento, pediu que os participantes sugerissem temas para uma futura palestra. “Para minha surpresa, a maioria sugeriu tema relacionado a sexo. Penso que houve um incômodo por uma mulher estar em situação de destaque, de empoderamento. Tenho certeza, que se no meu lugar houvesse um homem, o tema sugerido não seria sexo”, concluiu a engenheira que, vencido os desafios, hoje se sente feliz em ter seguido o curso e exercer a profissão.
Para a engenheira civil, química e de segurança do trabalho Walquíria França é fato que a mulher encontra mais resistência e mais dificuldades no desempenho das atividades relacionadas às áreas tecnológicas. No entanto, diz que nunca se deixou “abater” e sempre correu em busca do sonho de poder exercer a sua profissão e conquistar espaços que possibilitassem alcançar independência financeira. “Há 22 anos atuando na Engenharia acho muito importante comemorar o dia criado em homenagem às mulheres engenheiras, principalmente porque acho que a iniciativa nos dá força para continuarmos lutando pelo nosso espaço. Aliás, acredito sim, que o lugar da mulher é aonde ela quiser estar”, concluiu a engenheira, parabenizando as colegas de profissão pela data.