Será mesmo que nossos sonhos possuem data de validade? Às vezes, vamos adiando, adiando, até deixá-los para trás. Mas essa situação não se aplica ao engenheiro civil Pedro Luiz da Conceição, 59 anos. O profissional ingressou no curso de engenharia civil aos 50 anos depois de uma longa carreira de três décadas como técnico em mecânica industrial, formação concluída por ele aos 18 anos. A estrada da vida e a carteira de trabalho mostram a vasta experiência como técnico em empresas como Sociel, Hidroservice, Construtora Mendes Júnior, Mogno Engenharia, Engevix Engenharia, Jatobá Engenharia e Manserv Engenharia.
A terra natal, Recife, foi onde Pedro Luiz da Conceição encontrou as primeiras oportunidades até ser transferido para outra capital. Depois de alguns anos atuando em Salvador, na Construtora Mendes Júnior, era chegada a hora de regressar para a capital pernambucana. Os primeiros meses, contudo, foram marcados pela dificuldade em encontrar uma nova chance. E foi assim que a trajetória de Pedro Luiz e Stênio Cuentro se cruzaram. A amizade entre os dois se estendeu ao campo profissional. Foi de Cuentro o convite que Pedro Luiz recebeu para se recolocar no mercado de trabalho recifense, na Mogno Engenharia.
Mais de trinta anos depois do primeiro contato, foi também das mãos de Stênio Cuentro que Pedro Luiz recebeu a carteira de profissional do sistema Confia/Crea. “Ele mereceu esse diploma de engenheiro, porque a vida inteira ele foi engenheiro. Só não tinha o diploma. Ele foi projetista, desenhista, tomou conta de obra. Esse diploma é só fruto de toda uma vida dedicada à engenharia. Ele fez o contrário. Ele deu mais para a engenharia e, agora, é a vez da engenharia devolver a ele um pouco do reconhecimento do que ele já fez”, lembrou, sem segurar as lágrimas, o vice-presidente do Crea Pernambuco, Stênio Cuentro.
Depois de vários serviços prestados em empresas de engenharia de Recife e Salvador, em 20 anos de carreira, faltava-lhe ter o seu próprio empreendimento. Foi então que o nome de batismo ajudou na construção da marca ‘Pedro Luiz Engenharia e Planejamento’, em busca de uma melhor remuneração. “Eu já não conseguia mais ter a remuneração que eu merecia considerando minha experiência. Então, para ter uma renda maior, decidi montar a minha própria empresa. Eu tenho muito conhecimento na área, já eram 20 anos de experiência e consegui ter mais sucesso sendo dono do meu próprio negócio”, lembra o engenheiro civil Pedro Luiz da Conceição.
O calouro Pedro Luiz
A carreira consolidada não foi suficiente para manter o profissional na chamada zona de conforto. Faltava algo a mais, o diploma de nível superior. Depois de vários anos longe da sala de aula, Pedro Luiz encarou o desafio de ingressar no curso de engenharia civil aos 50 anos. Na sala de aula encontrou professores que atuaram nas mesmas obras que o experiente aluno. Entre os colegas de turma, o estudante era visto com o respeito e admiração construídos, tijolo por tijolo, pelas décadas atuando em canteiros de obras. “É uma pessoa que tem muita vontade de ensinar e tem paciência com quem está apenas começando na área de engenharia. Nós víamos que ele ficava feliz em poder passa o conhecimento que ele tem para a turma”, conta o engenheiro civil Kléber Lima, que atua como profissional na ‘Pedro Luiz Engenharia e Planejamento’, sendo estagiário à época da graduação.
O alicerce da família
Não é fácil para ninguém concluir um curso de nível superior. Porém, a dificuldade é ainda maior para quem acumula as responsabilidades de marido, pai e avô, como o caso de Pedro Luiz. Além das provas, testes e seminários, o então estudante tinha que lidar com as questões da empresa – na qual tira o sustento do – e com o pouco tempo para a família. Afinal, a rotina era tomada por um dia intenso de trabalho, estudo e muitos finais de semana quase sem descanso. “Eu não tinha tempo para nada! Saía da faculdade às 22h, chegava em casa de 23h para estudar até 2h da manhã. Nos sábados e domingos eu também estudava nesse período de graduação. Contei com a compreensão da família para passar por esse momento”, lembrou Pedro Luiz da Conceição.
O núcleo familiar mais próximo formado pela esposa, filha, genro e neto foi decisivo para o sucesso acadêmico. Foram eles que estiveram ao lado de Pedro Luiz durante toda essa caminhada. “A gente dava o maior apoio ao meu pai. Nos momentos mais difíceis em que ele chegava ao extremo nós estávamos lá. A gente foi uma das maiores forças que ele teve para poder concluir o curso aos 56 anos de idade. Foram momentos bem difíceis, porque ele fez a graduação um pouco mais velho e tinha algumas dificuldades, principalmente pelo tempo de estudo. Mas ele se dedicava, foi um exemplo de aluno”, lembra Andreza da Conceição, filha de Pedro Luiz.
Os sonhos nunca envelhecem
Formado há dois anos em engenharia civil e estudante de pós-graduação em Concreto Armado, Pedro Luiz é um exemplo de que nunca é tarde para realizar objetivos. Mesmo com todas as dificuldades que cercaram todo o período de graduação, a palavra “desistir” jamais fez parte do dicionário do engenheiro civil. “Não devemos deixar passar tanto tempo para realizar seus sonhos. Claro que para cada pessoa é uma história e eu só pude me qualificar como engenheiro um pouco mais velho. Mas a lição que eu deixo para as pessoas é que não desista, faça. Porém se puder fazer mais cedo é melhor”, destaca Pedro Luiz da Conceição.