Com investimento previsto em cerca de R$ 1 bilhão, o projeto do Arco Metropolitano do Recife pretende melhorar o trânsito da BR-101 e atrair investimentos para o Estado. Devido à magnitude da intervenção, especialistas e autoridades em meio ambiente apontam para a necessidade de alinhar o desenvolvimento com a sustentabilidade. Para tratar deste assunto tão importante, o Crea-PE reuniu na última quinta-feira (8) representantes do poder público, universidade e sociedade civil no I seminário do Comitê Tecnológico Permanente (CTP) do Conselho.
O encontro foi transmitido no canal do Conselho do YouTube, a TV Crea-PE, e pode ser assistido na íntegra aqui.
O Arco vai ligar Igarassu ao Cabo de Santo Agostinho, criando uma nova alternativa de rota na RMR. O território atravessado pela obra é um patrimônio biológico do estado possuidor de grandes concentrações de fragmentos remanescentes de Mata Atlântica e refúgio para espécies ameaçadas de extinção, impondo como desafio a criação de soluções que atendam prerrogativas ambientais, econômicas, sociais e tecnológicas.
Participaram do encontro a engenheira civil Fernandha Batista, que está à frente da Secretaria de Infraestrutura e Recursos Hídricos de Pernambuco, pasta responsável pela execução do projeto; o engenheiro eletricista Herbert Tejo, que preside o Fórum Socioambiental de Aldeia; o engenheiro civil João Recena, coordenador de um dos eixos do CTP; além do engenheiro civil Maurício Andrade e da engenheira florestal Isabelle Meunier, que participaram como debatedores. O coordenador executivo do CTP, Roberto Muniz; e o presidente do Crea-PE, Adriano Lucena, também estiveram presentes.
Fernandha Batista defendeu que o projeto vai reduzir os tempos e os custos de deslocamentos na RMR, bem como criar uma nova zona de desenvolvimento e se tornar um eixo articulador para a expansão produtiva sustentável dos municípios atravessados.
“O papel do governo é pensar em cenários sustentáveis e debater com a sociedade, afinal estamos falando de um investimento de cerca R$ 1 bilhão. Esta provocação que o Crea-PE está promovendo é uma iniciativa bastante positiva, pois trata-se de um projeto que quanto mais escutarmos especialistas e sociedade menores serão as chances de erro”, disse a secretária.
Maurício Andrade, que também é professor da UFPE, ofereceu uma visão técnica a respeito das características da BR-101, apresentando, dentre outros fatores, os riscos de acidente e problemas de mobilidade da rodovia que diariamente serve de pista para 69 linhas de ônibus. O especialista defendeu a necessidade do Arco Viário e a possibilidade de buscar nas engenharias as soluções necessárias para sua viabilização.
Para ele, os grandes desafios são situar a rodovia em um ambiente que abriga áreas de preservação e desenvolver um projeto atrativo para desviar a maior parte do tráfego possível do atual contorno do Recife. “Nós da UFPE estamos abertos a debater essas questões. Estamos estudando o tema, especialmente do ponto de vista econômico, e gostaríamos de contribuir com soluções de engenharia, pois elas existem”.
Herbert Tejo e Isabelle Meunier priorizaram em suas falas a questão ambiental. O presidente do Fórum Socioambiental de Aldeia criticou o edital proposto pela AD Diper para o trecho norte do Arco Viário, pois incluiu a APA Aldeia-Beberibe, Unidade de Conservação de Uso Sustentável, na região abrangida pelo Arco Metropolitano. “Infelizmente o debate público está acontecendo de forma tardia, aparecendo apenas na medida em que o Fórum impugnou o edital. Até então não tinha havido qualquer debate com a sociedade, iniciado apenas com a licitação já em andamento”.
Meunier, por sua vez, afirmou que o projeto não pode repetir equívocos de outros grandes investimentos de forte impacto e que é preciso levar a questão da sustentabilidade com mais seriedade. “Se a gente tem expectativa de restaurar o muito que a gente perdeu, tudo que for conduzido em termos de transporte ou outras soluções urbanas precisa ser pensado na perspectiva de não perder mais matas e não comprometer a possibilidade da restauração, que é o que a APA nos oferece com o estabelecimento de corredores e aumento de fragmentos. Então não basta ser preservada, mas ampliada e com isso a gente ter os serviços ecossistêmicos que toda sociedade precisa”.
João Recena, que atuou como mediador, também fez um apelo ao governo: “O compromisso do poder público deveria ser essa compensação, um compromisso de deixar melhor do que estava. A gente sabe que tem muita coisa que poderia ser feita pela APA de Aldeia com um custo bem menor do que o da estrada. A minha esperança é de que a APA como um todo receba o devido tratamento”.
Para Roberto Muniz, o debate permitirá a construção de soluções pactuadas coletivamente: “O debate de alto nível nos deixa esperançosos para a construção de uma solução consensuada. Acredito que esse fórum não pode se encerrar hoje. Gostaria de propor ao Governo do Estado, através da Seinfra, que este encontro seja realizado de forma permanente, trazendo questões e informações atualizadas e que o Crea-PE possa ser a casa mais adequada para este tipo de discussão”.
Após saudar a todos, Adriano Lucena celebrou a participação conjunta dos diversos setores da sociedade na construção de alternativas benéficas para todos. “Este debate que iniciamos em alto nível é reflexo de um Crea-PE interessado no desenvolvimento econômico, social, inclusivo e participativo. Queremos que a sociedade organizada tenha voz, que o Governo de Pernambuco tenha seu posicionamento e que a academia aponte caminhos através do conhecimento. O encontro do futuro se faz com muita tecnologia e com respeito ao meio ambiente. Queremos emprego e renda, pois queremos o profissional trabalhando. Não podemos permitir o alto investimento na formação qualificada e que o profissional não seja valorizado ou precise ir trabalhar em outros estados”, disse.
COMITÊ
O CTP, que organiza o evento, é um comitê formado por profissionais com experiência e liderança nas áreas de atuação da engenharia, agronomia e geociências. Ele reúne três eixos de atuação: um ligado à educação e à formação do engenheiro, outro com um olhar para a qualidade e inovação na engenharia e, por fim, o terceiro eixo, batizado de Um projeto para Pernambuco e o Brasil, com uma engenharia mais propositiva. Este eixo, do qual fez parte o seminário, está sob a coordenação do engenheiro civil João Recena.