Geógrafo pernambucano tem extensa contribuição acadêmica para as ciências humanas e sua obra “A terra e o homem no Nordeste” é apontada como um dos 100 livros do século 20
Um homem à frente do seu tempo é uma descrição que cai como uma luva para o geógrafo pernambucano Manuel Correia de Andrade. Vanguardista, comemoraria 100 anos de nascimento neste último 3 de agosto. Sua contribuição acadêmica para as ciências humanas pode ser contabilizada nos seus livros, artigos científicos, colunas semanais em jornais, orientações de teses, dissertações e materiais didáticos.
Uma das principais obras, “A terra e o homem no Nordeste” é uma referência para o debate de diferentes temas, tais como: questão agrária, planejamento regional, geopolítica, questões ambientais e ainda das histórias das revoltas populares. Essa obra foi eleita pela Câmara Brasileira do Livro como um dos 100 livros do século 20. Sua história, obra e conhecimentos à frente do seu tempo estarão no Crea Convida desta terça-feira (6), com o tema “Centenário de Manuel Correia de Andrade: a atualidade do geógrafo pernambucano”.
O assunto será apresentado pelas palestrantes Maria Rita Machado, geógrafa, mestra em Geografia e doutora em Geografia Humana e professora da UFRPE; Mariana Zerbone, geógrafa, professora do Departamento de História da UFRPE e coordenadora do RecLab (Laboratório de estudos e ensino sobre o Recife); e Gevson Silva Andrade, geógrafo, doutor em Geografia Humana pelo Geisteswissenschaft – Technische Universitaet Berlin e professor da Universidade de Pernambuco (UPE). O evento será online, com transmissão ao vivo pela TV Crea-PE, no YouTube.
Orientanda de Manuel Correia, Maria Rita Machado teve o privilégio de conviver com o geólogo como um mestre direto. “Ele foi mais do que meu orientador. Ele foi um grande amigo”, recorda a professora, destacando que o geógrafo era extremamente generoso. Ela conta que, mesmo já com mais de 80 anos, tinha um espírito jovem e entusiasmado. “Indicava uma série de livros para nossos trabalhos e depois vinha discutir o assunto”, lembra Maria Rita.
No seu histórico, uma pessoa preocupada com o social. Mesmo de origem abastada, sendo filho de dono de engenho, em Vicência, na Zona da Mata, onde nasceu, preocupava-se com os filhos dos trabalhadores e as relações de trabalho que eram mantidas com os empregados. Apesar de ser contrário ao tratamento dado aos trabalhadores, era motivo de orgulho da família, conforme Maria Rita Machado.
Na década de 1960, o geógrafo defendia a reforma agrária quando o Brasil já respirava os ares da ditadura militar. Esse tema continua sendo muito atual e relevante. “Ele dizia que não temos uma só questão agrária, mas temos várias. Trouxe grandes reflexões sobre o trabalho no campo e na cidade”, assegura Maria Rita.
No seu livro “A terra e o homem no Nordeste”, ele defendia a capacitação técnica dos pequenos produtores, o maior acesso ao crédito e a articulação deles na cooperação. “Sempre esteve disponível para receber e orientar os movimentos sociais”, atesta a professora Maria Rita.
Outro ponto de destaque na sua carreira diz respeito ao planejamento urbano e regional, sendo o responsável por delimitar a Região Metropolitana do Recife. Assunto que será abordado por Mariana Zerbone. “Um trabalho realizado por ele na década de 1960 e permanece até hoje”, destaca Mariana Zerbone.
Depois da apresentação dos palestrantes, será aberto um espaço para interação com os participantes da live. Será possível fazer comentários e perguntas sobre o tema pelo chat do canal do Crea-PE, no YouTube.
